Já várias vezes citámos um conto do escritor José Carlos Barros em que ele diz: “Quando o general soube da revolta na capital mandou os soldados dispararem no sentido contrário”… É exactamente o que acontece com os generais da comunicação social do Estado na Reipública da Angola do MPLA.
Por Domingos Kambunji
Estes pseudo-jornalistas passavam o tempo a desempenhar o papel de gabarolas, bajulando o anterior presidente: “Ele era honesto, o líder clarividente, o líder querido, o arquitecto da paz, o faz tudo, o justiceiro, o mais que mais, o senhor perfeição”…
Quando falavam do assassino Agostinho Neto, o fundador da guerra civil e pai dos fuzilamentos do 27 de Maio, diziam que ele foi o “guia imortal, o libertador, o maior poeta em todo o mundo e arredores, o que dizia que o mais importante era resolver os problemas do povo”…
Afinal, fazendo o balanço, povo eram apenas os presidentes e outros dirigentes do MPLA e seus familiares porque os 20 milhões de pobres continuam a viver na lama, com “problemas” cada vez mais angustiantes e agonizantes.
Os Netos eram todos muito santos e os Santos eram todos deuses da perfeição, senhoras e senhores de todas as virtudes e de um altruísmo enorme. Eles eram empresários de sucesso, os messias e profetas da justiça social e do desenvolvimento construtivo do país, dotados de uma clarividência e uma inteligência acima do normal.
Quem muito sobe maior é o trambolhão…
Afinal os Netos não eram santos e os Santos não eram deuses. Os Netos nunca foram um mar de virtudes e os Santos jamais foram toda a banha da cobra com que os órgãos de comunicação social do Estado tentaram poluir as mentes dos angolanos.
O MPLA disse que venceu a batalha do “Koito-Carnaval” para libertar todos os povos da África Austral. Mas que raio de libertação foi essa para continuarem a sobreviver miseravelmente em Angola 20 milhões de pobres? Mas que raio de libertação foi essa para muitos Netos e Santos não viverem nesse território “libertado” e fugirem, com caixotes cheios de kumbu, para países europeus? Há Netos que se recusam a estudar na Universidade com o nome do avô, o assassino, e optam por fazer a formação académica naquelas universidades muito caras do estrangeiro.
Entretanto, os bancos da Suíça, do Reino Unido… descobriram contas bancárias muito gordas de Santos e Netos. O sistema judicial da Reipública da Angola deixou fugir esse kumbu, calou e agora diz que é muito competente com as “descobertas que os outros descobriram”. Se não fossem os outros, os estrangeiros, a desmascarar esses cambalachos, a Procuradoria “do General da Reipública” continuaria a dizer que os Netos eram santos e os Santos eram deuses?
Agora os Santos e os Netos dizem que tudo isto é um circo mediático para prejudicar o “bom nome das famílias”. Desde quando essas famílias tiveram um bom nome? Os que protestaram contra essa ditadura de Netos & Santos e corrupção da oligarquia do MPLA, defendendo a democracia, foram espancados, presos, julgados e condenados a pesadas penas de prisão, acusados de pertencerem a uma organização de malfeitores.
Durante esse julgamento os órgãos de comunicação social do Estado convidaram vários “intiliquituais” do MPLA para defenderem a injustiça, para opinarem que os defensores da democracia e manifestantes contra a corrupção do MPLA eram agentes do imperialismo capitalista internacional, pagos (com 100 milhões de dólares) por agentes neocolonialistas que, invejosos dos sucessos do MPLA na Reipública da Angola do MPLA, só queriam prejudicar o partido maioritário (graças à fraude eleitoral) e a manchar a história de Angola – versão MPLA.
Agora que tudo aponta para o facto de os Netos nunca terem sido santos e os Santos nunca foram deuses, os pseudo-jornalistas da comunicação social do Estado, meretrizes de Santos e Netos, para protegerem o “General da Reipública”, o ministro da Defesa da corrupção dos Santos, dizem que:
“O tempo dos monopólios e da impunidade já acabou e a cada dia vamos tendo conhecimento de casos de apropriação de bens públicos que roçam a pornografia e, felizmente, estão a ser cobrados pelas autoridades, no seguimento do lema “a justiça pode tardar, mas não falha”.
Os maiores kapangas que tanto protegeram e gabaram a pornografia gerida pelo MPLA foram os órgão da comunicação social do Estado.
Alguém ouviu falar do “Processo do Manuel Vicente, de corrupção, branqueamento de capitais e falsificação de documentos” exportado de Portugal para Angola? Falhou! Está no segredo da injustiça ou arquivado num qualquer caixote do lixo do Bureau Político do Comité Central do MPLA ou da Assembleia Nacional?
Agora os santos são os Lourenços? Até quando? As modas mudam com uma frequência muito rápida na Reipública da Angola do MPLA.
Não é por mais nada mas, na verdade, já se esgotou o prazo para o presidente São João Promessas e Viagens ao Estrangeiro “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”. A desculpa da pandemia é demasiado oca, oportunista, para disfarçar a incompetência. As promessas de que as reformas do Joãocutivo irão produzir, no futuro, efeitos na melhoria da qualidade de vida dos angolanos, para resolver os problemas do povo, também foram feitas pelos Netos & Santos, enquanto engordavam as suas contas bancárias no estrangeiro e enviavam os filhos para estudarem nas universidades muito caras dos países do “capitalismo neocolonialista internacional, inimigo do povo angolano”.
Afinal os Santos eram pecadores e os Netos foram deuses do mal?
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